MATLIT: Vol. 5
Vox Media: O Som na Literatura
Organizadores: Osvaldo Manuel Silvestre (Universidade de Coimbra)
Felipe Cussen (Universidade de Santiago do Chile)

 

A naturalidade com que a ideia de literatura se traduz na ideia de texto e, esta, em «letras impressas em papel», é provavelmente responsável pela versão unilateral que o senso comum, bem como a doxa crítica, a todo o instante transmitem da relação do leitor com ela: a literatura é algo que se lê em silêncio. Ou melhor, a literatura é um texto que devém livro por meio de um processo de inscrição que, também ele, se torna invisível, uma vez que a materialidade do texto se anula em função daquilo que nele se transmite: ideias, sentidos, enfim, conteúdos.

E contudo, não há literatura sem um processo de inscrição material que faz de cada signo verbal uma coisa no mundo fenomenal, para ser vista antes de ser lida, e para ser lida em silêncio – ou não. Ou então, para ser dita, o que é uma outra forma de inscrição material, precedendo e dispensando a escrita ou seguindo-se a ela. Existem, como é sabido, histórias da literatura (ocidentais e não-ocidentais) nas quais a Voz precede a escrita, e existem argumentos filológicos em seu apoio – embora se possa suspeitar de que tais argumentos relevam de alguma pulsão revisionista. Não se trata, porém, de buscar um privilégio da Origem para o estudo da dimensão sonora do fenómeno literário, mas sim de admitir a relevância de tal estudo para uma versão mais completa, simultaneamente moderna e arcaica, de literatura.

No cruzamento das vanguardas históricas com as mudanças nas tecnologias de comunicação, a literatura abriu-se às materialidades do som, da voz e da performance, num processo que a mediação e reprodução técnica não deixou de acelerar e dramatizar, até à revolução digital (e à especificidade histórica e tecnológica da situação pós-digital). Este processo sofreu ainda a sobreposição do fenómeno da massificação, operando em grande medida num cenário de «re-oralização», embora já nos termos históricos de uma «oralidade secundária». Dos ambientes mais vanguardistas aos mais massificados, da Poesia Sonora à Spoken Word ou à Slam Poetry, sem esquecer esse vasto território intermédio ocupado pelas «leituras (ou récitas) de poesia», a consciência de que o planeta da literatura abarca também essas dimensões é hoje crescente: poesia fonética, poesia sonora, gravação de textos literários (pelos seus próprios autores ou por outros leitores), musicalização de poemas (sobretudo nos casos em que a voz não chega ao canto e se sabota a forma canção), leituras ao vivo, spoken word, slam poetry, rap

O volume 5 de MATLIT explora, pois, aquilo a que chamamos a literatura enquanto VOX MEDIA: a voz enquanto meio da literatura e as perturbações que o meio sofre pelo efeito combinado da performance e das tecnologias de mediação, representação e reprodução, sem esquecer a tensão entre corpo e tecnologia, entre a audibilidade/inaudibilidade do texto, entre o som e o sentido, entre a presença física ou a ausência do autor, etc. A intenção é, não apenas, a de produzir o catálogo e compêndio dos efeitos contemporâneos da VOX MEDIA sobre a noção de literatura, mas a de produzir uma arqueologia da VOX MEDIA e de todos os fenómenos recalcados pela sua invisibilidade histórica.

Os artigos devem ser apresentados até 31 de outubro de 2016. Para apresentação de artigos, os autores têm de registar-se no sistema da revista: http://iduc.uc.pt/index.php/matlit/login Consultar instruções para autores: http://iduc.uc.pt/index.php/matlit/about/submissions

 


MATLIT: Vol. 5
Vox Media: Sound in Literature
Editors: Osvaldo Manuel Silvestre (University of Coimbra)
Felipe Cussen (University of Santiago de Chile)

 

The easiness by which the idea of literature translates into the idea of text and the latter into “letters printed on paper” is probably to blame for the one-sided version both common sense and critical belief constantly show of the relation between readers and books: literature is something that we read in silence. Better still, literature is a text that becomes a book by means of an inscription process that becomes invisible itself, since the materiality of the text is annulled as a result of what is being transmitted by the former: ideas, meaning, in a word, contents.

And yet, there is no literature without a material inscription process which turns each verbal sign into a thing belonging to the phenomenal world, to be seen before being read and to be read in silence—or not. Or else, in order to be spoken (another form of material inscription), preceding and dispensing with the writing or coming immediately after it. There are, it is well known, western and non-western literary narratives in which Voice precedes writing. There are, also, some arguments supporting this claim, although one might suspect a mild revisionist tone to some of them. Nevertheless, this is not about searching for a privilege of the Origin for the study of the sound dimension of literary phenomena, but rather about admitting the relevance of such a field to a larger, simultaneously modern and archaic, version of literature.

In the crossing of historical avant-gardes and changes in communication technologies, literature has opened itself to the materialities of sound, voice and performance. This process was accelerated and dramatized by both mediation and technical reproduction up until the digital revolution, which eventually led to the historical and technological specificity of the post-digital state of affairs. The process further suffered the overlap of massification, thus operating to a large extent on a scene of “re-oralization”, although by then within the historical setting of a “secondary orality”. From the more avant-garde to the more massified environments, from Sound Poetry to the Spoken Word or Slam Poetry, without overlooking the vast intermediary territory of “readings (or recitations) of poetry”, it is safe to admit that the self-awareness that planet literature has is also to encompass those ever-growing dimensions: phonetic poetry, sound poetry, recordings of literary texts (either by their own authors or other readers), setting of poems into music (especially in the cases in which the voice is not turned into singing, thus sabotaging the form of “song”), poetry and narrative live readings, spoken word, slam poetry, rap.

MATLIT’s volume 5 is thus intent on exploring what we call literature as VOX MEDIA: voice as a means for literature and the disturbances suffered by the medium from the combined effect of performance and the technologies for mediation, representation and reproduction. And also other instances, like the tensions between the body and technology, audibility v. inaudibility of text, sound and meaning, physical presence and/or absence of the authors, and so forth. The goal is not only that of generating a catalogue or a compendium of the contemporary effects of VOX MEDIA on the notion of literature, but that of generating an archaeology for VOX MEDIA and for all related phenomena repressed by their historical invisibility.  

Submissions must be uploaded before October 31, 2016. Prior to submission, authors have to register in the journal system: http://iduc.uc.pt/index.php/matlit/login Please see author guidelines: http://iduc.uc.pt/index.php/matlit/about/submissions  

 


MATLIT: Vol. 5
Vox Media: El Sonido en la Literatura
Editores: Osvaldo Manuel Silvestre (Universidad de Coímbra)
Felipe Cussen (Universidad de Santiago de Chile)

 

La naturalidad con la que la idea de literatura se traduce en la idea de texto y, esta, en «letras impresas en papel», es probablemente responsable de la versión unilateral que tanto el sentido común, como la doxa crítica, transmiten, en todo momento, de la relación del lector con ella: la literatura es algo que se lee en silencio. O mejor aún, la literatura es un texto que deviene libro por medio de un proceso de inscripción que, también él, se vuelve invisible, en cuanto la materialidad del texto se anula en función de aquello que en él se trasmite: ideas, sentidos, en definitiva, contenidos.

A pesar de todo, no hay literatura sin un proceso de inscripción material que haga de cada signo verbal una cosa en el mundo fenomenal, para ser vista antes de ser leída, y para ser leída en silencio – o no. O también, para ser dicha, lo que es otra forma de inscripción material, al preceder y dispensar la escritura o seguirla. Existen, como es sabido, historias de la literatura (occidentales y no-occidentales) en las cuales la voz precede a la escritura, y existen argumentos filológicos que lo demuestran – aunque se podría sospechar que tales argumentos proceden de alguna pulsión revisionista. No se trata, no obstante, de buscar una causa atávica para el estudio de la dimensión sonora del fenómeno literario, pero sí de admitir la relevancia de tal estudio para una versión más completa, simultáneamente moderna y arcaica, de la literatura.

En el cruce de las vanguardias históricas con los cambios en las tecnologías de la comunicación, la literatura se abrió a las materialidades del sonido, de la voz y de la performance, en un proceso en que la mediación y la reproducción técnica no pararon de acelerar y dramatizar hasta la revolución digital (y a la especificidad histórica y tecnológica de la situación post-digital). Este proceso sufrió, todavía, la sobre posición del fenómeno de la masificación, al operar en gran medida en un escenario de «reoralización», aunque ya en los términos históricos de una «oralidad secundaria». De los ambientes más vanguardistas a los más masificados, de la Poesía Sonora al Spoken Word o al Slam Poetry, sin olvidar ese vasto territorio intermedio ocupado por las «lecturas (o recitales) de poesía», la consciencia de que el universo de la literatura abarca también esas dimensiones es hoy creciente: poesía fonética, poesía sonora, grabación de textos literarios (por sus propios autores o por otros lectores), musicalización de poemas (sobre todo, en los casos en los que la voz no llega al canto y se desplaza la canción como forma), lecturas de poesía o narrativa, spoken word, slam poetry, rap.

El volumen 5 de MATLIT explora, así, aquello a lo que llamamos la literatura en cuanto VOX MEDIA: la voz en cuanto medio de la literatura y las perturbaciones que el medio sufre por el efecto combinado de la performance y de las tecnologías de mediación, representación y reproducción, sin olvidar la tensión entre cuerpo y tecnología, entre la audibilidad/inaudibilidad del texto, entre el sonido y el sentido, entre la presencia física o ausencia del autor, etc... La intención es, no solo la de producir el catálogo y compendio de los efectos contemporáneos de la VOX MEDIA sobre la noción de literatura, sino también la de producir una arqueología de la VOX MEDIA y de todos los fenómenos recalcados por su invisibilidad histórica.

Los artículos deben ser cargados antes del 31 de octubre de 2016. Los autores tienen que registrarse en el sistema de la revista: http://iduc.uc.pt/index.php/matlit/login Por favor, véanse las directrices de autor: http://iduc.uc.pt/index.php/matlit/about/submissions