Mediapolis – Revista de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público

Modelo de jornalismo e ‘pós-verdade’

Cátia Guimarães — 2023-12-28

Propõe uma análise crítica do modelo de jornalismo que se conformou como prática profissional e instrumento da democracia, buscando compreender as fragilidades que contribuem para a crise que de confiança e legitimidade que ele hoje enfrenta. Traça uma breve história desse modelo, localizando sua origem no momento de consolidação da ordem burguesa pós-revoluções liberais e identifica como uma de suas principais características, relevantes para o momento atual, a concepção de objetividade como sinônimo de neutralidade. Chegando ao cenário contemporâneo, discute o papel do jornalismo na normalização de lideranças de extrema-direita no Brasil e em Portugal.

Entre a politização da cobertura e a defesa do campo

Francisco Paulo Jamil Marques — 2023-12-28

O objetivo deste trabalho é discutir um conjunto de transformações verificadas na gramática de produção jornalística que resultam em uma crescente politização da cobertura. Mais precisamente, sustenta-se que, em contradição com os princípios da imparcialidade e da objetividade reivindicados pelo campo do Jornalismo no Brasil, há evidências de alterações nas conexões organizacionais de empresas do ramo informacional e na tendência dos profissionais de imprensa de atuarem na vida política. Se, por um lado, a politização tem a ver com a necessidade de sobrevivência das empresas jornalísticas (que lutam para manter sua legitimidade em um cenário financeiro desafiador), por outro, existe o risco de que uma abordagem percebida como tendenciosa altere os acordos que o campo dos media estabelece com o público. Ao extrapolar determinados limites na ânsia de refutar políticos adversários, acaba-se colocando em dúvida o compromisso das organizações jornalísticas com a defesa do interesse público.

Verdade, mentira e fake news nos discursos de Lula e Bolsonaro

Taís Seibt — 2023-12-28

A pesquisa monitorou menções aos termos “fake news”, “verdade” e “mentira” nas publicações dos candidatos Lula e Bolsonaro em seus perfis no Twitter durante a campanha eleitoral para presidente do Brasil em 2022, com o objetivo de compreender os sentidos produzidos no discurso dos candidatos, seguindo a metodologia de Análise de Discurso de linha francesa. Parte-se de estudos contemporâneos sobre desinformação nas plataformas digitais para a problematização teórica dos conceitos. Como resultados, temos uma postura retórica nas postagens de Jair Bolsonaro, no intuito de reforçar uma visão particular de “verdade” e “mentira” - não foram encontradas citações ao termo “fake news” -, enquanto Lula busca confirmar a veracidade de suas declarações ou reiterar a falsidade do que diz o adversário, utilizando técnicas discursivas similares às de verificadores profissionais, concentrando todas as citações à expressão “fake news” no corpus da pesquisa.

O uso de agregadores de pesquisas no jornalismo político durante a campanha presidencial brasileira de 2022

Bruno Nogueira Galvão Pereira — 2024-11-05

A presente pesquisa tem como objetivo compreender como os meios de comunicação brasileiros utilizam métodos de predição eleitoral em reportagens jornalísticas no âmbito da cobertura das eleições presidenciais de 2022. O ano de 2022 ficou marcado pelo lançamento de diversas ferramentas de agregação de sondagens por parte da imprensa, que têm vindo a ser utilizadas como alternativa às sondagens tradicionais para reforçar a exigente cobertura eleitoral. Nesse contexto, coletamos dados de matérias jornalísticas de veículos selecionados que citam seus próprios agregadores de enquetes no período de 1º de janeiro de 2022 a 31 de julho de 2022. A pesquisa mapeia a utilização de agregadores em jornais e apresenta uma análise das matérias que utilizam o agregador de enquetes como fonte primária de informações. Para tanto, classificamos os artigos em três categorias distintas, identificadas segundo padrões encontrados na forma como utilizam o agregador. Por fim, destaca o caráter inovador da pesquisa sobre o uso de agregadores de enquetes pelos veículos de comunicação.

Fake news e fact-checking nas eleições presidenciais

Paulo Ferracioli — 2024-11-05

Tornando-se uma preocupação em todo o mundo, as chamadas fake news geraram uma reação do Jornalismo tradicional: os projetos de checagem de fatos (fact-checking). Diante desse cenário, o artigo tem como objetivo averiguar, em caráter exploratório, como ocorreu a checagem de boatos durante o processo eleitoral, tendo como foco a produção dessas verificações. O objeto empírico do trabalho é o projeto Comprova, que contou com repórteres de diversas empresas jornalísticas. Para atingir o objetivo proposto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatro jornalistas que atuaram no projeto. Na sequência, as respostas foram submetidas a uma Análise de Conteúdo realizada por meio do software Iramuteq. Os resultados demonstram, entre outros achados, que o WhatsApp foi uma das ferramentas mais utilizadas pelos verificadores e que o processo de checagem tem distinções em relação à apuração jornalística tradicional

Sem espelhos planos

Rafiza Varão — 2023-12-28

Este artigo traça uma comparação entre os usos dos media em um dos primeiros movimentos populistas da história, o populismo russo, e os usos dos media realizados pelas correntes populistas contemporâneas e digitais. Trata-se de uma análise essencialmente teórica, realizada a partir de revisão bibliográfica tanto sobre o primeiro tema quanto sobre o segundo, a partir do método comparativo, buscando esses elementos na literatura especializada. O objetivo é identificar não só possíveis aproximações entre os usos dos media pelo populismo na Rússia do Século XIX e as correntes populistas recentes, mas sobretudo divisar suas diferenças, inclusive no que diz respeito à democracia. Conclui-se que, apesar de possuírem alguma semelhança, as diferenças entre os dois populismos se apresentam em maior número.

Eleições e comunicação em Moçambique

Dércio Tsandzana — 2024-11-05

O humor pode ser sinónimo de várias realidades, mas raramente se pensa na dimensão política que pode ter. Se, ao longo da história, o humor tem sido usado para transmitir sentimentos de diversa ordem, pouco ou quase nada já foi estudado, na perspectiva política, para o caso de Moçambique. Assim, baseando-se nas Eleições Gerais de 2019 e, através de uma metodologia qualitativa (entrevistas semi-estruturadas e netnografia), este artigo discute a forma pela qual o humor pode ser uma maneira de fazer política em períodos eleitorais. Como resultado, além das limitações de acesso à Internet existentes no país, os exemplos apresentados revelam a existência de uma tendência crescente do uso de imagens e memes como forma de acção política, destacando, sobretudo, práticas de ridicularização política ou simples actos de risos ou propaganda. Igualmente, nota-se a necessidade de se usar o humor como alternativa ao facto de haver um aparente fecho do espaço cívico, visando a realização de actos de activismo e participação política, dada à existência de um clima de permanente impedimento para que as pessoas manifestem, de facto, o seu pensamento político em períodos eleitorais. Por conseguinte, as redes sociais da Internet emergem como um “tubo de escape” por se considerar.

Media e género nas eleições brasileiras de 2022

Jessica Neves Caetano Ribeiro — 2023-12-28

Este artigo centra-se na presença e representação das mulheres políticas na imprensa Brasileira. O corpus é constituído por todas as notícias dos jornais Folha de São Paulo e Estadão, no período pré-eleitoral de 2022 no Brasil. A análise empírica desenvolve-se por métodos mistos: o corpus é inicialmente analisado quantitativamente, por intermédio de análise de conteúdo com categorias similares a estudos anteriores, para levantamento comparativo da cobertura de períodos eleitorais. Adicionalmente, como estudo qualitativo, procedemos a uma análise textual e visual das notícias, à semelhança dos estudos de caso do Global Media Monitoring Project (GMMP), com foco nas mulheres candidatas ao pleito, procurando aprofundar a sua representação na imprensa em causa. Procuramos com esta pesquisa ampliar a discussão sobre o ‘Teto de Vidro’ e os media, bem como as barreiras históricas que impedem as mulheres de alcançar e concorrer aos cargos de poder.

Celebridades e comunicação pública

Raquel Campos da Cruz — 2023-12-28

Após uma queda expressiva da participação de jovens nas eleições brasileiras, o Tribunal Superior Eleitoral lançou uma campanha para incentivá-los a votar. Inesperadamente, celebridades progressistas também aderiram à campanha. Assim, este artigo tem como objetivo compreender qual o papel das celebridades no engajamento de jovens para que votassem nas eleições de 2022. Entende-se que a comunicação pública é um processo complexo envolvendo diversos atores sociais, ao mesmo tempo em que celebridades tem o potencial de provocar uma mudança por meio da idealização de seus fãs. O estudo exploratório a seguir utilizou a análise de conteúdo para observar publicações de cinco celebridades no Twitter. Anitta, Felipe Neto, Leonardo DiCaprio, Mark Hamill e Mark Ruffalo alcançaram juntos mais de um milhão de curtidas, interagindo com movimentos sociais e com seus seguidores. Isto mostra a relevância do discurso destes artistas para o debate público.

A CPI da Pandemia da Covid-19 e as eleições de 2022 para o Senado

Jaciane Freire Santana — 2023-12-28

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia da Covid-19 foi um dos assuntos mais comentados em 2021 no Brasil, repercutindo na campanha eleitoral de 2022. Este artigo analisa se a transmissão da CPI pela TV Senado apresenta elementos que indiquem uma aproximação da CPI com o conceito de reality show. Estuda como as sessões foram utilizadas no Instagram dos senadores Omar Aziz e Otto Alencar na campanha de 2022. Teoricamente, usa os conceitos de sociedade do espetáculo (Debor, 1967) e reality show (Feldman, 2008) e (Bazo, 2011). Metodologicamente, realiza uma pesquisa qualitativa (Minayo, 2013) e uma análise de conteúdo (Bardin 2011). A análise indica aproximações possíveis da CPI com um reality show, mas a comissão foi cenário para um espetáculo político (Rubim, 2003) e não de entretenimento, concluindo que sua repercussão foi utilizada para dar visibilidade aos mandatos dos senadores que se reelegeram.

Discursos sobre a criação de estados no Pará

Evelyn Cristina Ferreira de Aquino — 2023-12-28

Em 2011, a população paraense decidiu, em plebiscito, sobre a configuração político-territorial de um Estado. A criação de novos estados voltou a ecoar na cobertura jornalística das eleições em 2014, como posição midiática de forma a contribuir para a escolha eleitoral do público. Neste trabalho analisamos a cobertura jornalística do jornal O Liberal durante o período de campanhas ao governo estadual em 2014, no que tange à reverberação de discursos sobre o plebiscito realizado em 2011. Utilizamos como metodologia a análise crítica do discurso (ACD) aos moldes do modelo teórico-metodológico proposto por van Dijk (2005). O debate foi reduzido à disputa de grupos políticos já sacralizados na região contra a ascensão de outros que buscam o seu quinhão de poder, tendo como consequências o apagamento dos anseios históricos de autonomia da população da região do Carajás e do Tapajós. O papel informativo do jornalismo utilizou-se de estratégias discursivas que, na disputa comunicacional, buscaram legitimar estruturas de poder hegemônicas.

[Recensão a] Cesarino, L. (2022). O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu Editora. 304 p.

Thiago Cury Luiz — 2023-12-28

[Recensão a] Mason, P. (2022). Como Travar o Fascismo. Lisboa: Objectiva, 386 pp.

Catarina Magalhães — 2023-12-28

Comunicação e Jornalismo em Contextos Eleitorais

Bruno Araújo — 2023-12-28

Em fevereiro de 2022, o Washington Post anunciou a criação de uma nova equipa editorial — The Post's Democracy Team — cujos jornalistas têm por missão, doravante, cobrir melhor os processos eleitorais e os órgãos locais de poder. Mais uma vez, sobressai a importância da informação — e a intenção de a melhorar — no pressuposto de que isso terá um impacto positivo nos processos de atuação das instâncias do poder democrático.