Psychologica

Falsas memórias e psicopatologia

Lígia Portela Schipper, Ederaldo José Lopes

O objetivo deste estudo foi investigar as possíveis relações entre falsas memórias e transtornos depressivos, de ansiedade e personalidade através de uma revisão sistemática da literatura. A busca envolveu o intervalo de 2001 a 2023 e foi feita no idioma inglês nas bases de dados do CAFe (CAPES), APA - PsycNet e Google Scholar e em português e inglês na base de dados SciELO. Foram selecionados 30 artigos. Dezessete deles utilizaram o paradigma DRM ou variações dele. Sete artigos apresentaram maior produção de falsas memórias no grupo clínico de modo geral, especialmente para o transtorno de estresse pós-traumático. A valência teve papel definidor de resultados em 7 artigos, sendo que 4 apontaram para a tendência de produção de falsas memórias para material de valência negativa. Três artigos mostraram reconhecimento/recordação prejudicado de palavras corretas no grupo clínico. Seis artigos apontaram para um número maior de falsas memórias para itens relacionados emocionalmente. Conclusões: a relação entre falsas memórias e transtornos psicopatológicos carece de consenso na literatura, devido a fatores como variabilidade de amostras, paradigmas e metodologias, abrindo espaço para o desenvolvimento da pesquisa no campo e o desenvolvimento de paradigmas mais robustos, análises mais refinadas e características específicas a serem exploradas.

Experiência psicológica da solidão entre residentes da ilha de São Miguel (Açores, Portugal)

Edna Moniz, Rosa Marina Afonso, Luís Pires, Célia Barreto Carvalho

A solidão representa riscos crescentes para a saúde mental e física. Este estudo explora a experiência psicológica da solidão entre adultos das áreas rurais e urbanas da Ilha de São Miguel, utilizando uma abordagem qualitativa com dois grupos focais (rural: n = 10; urbano: n = 7). Os dados foram analisados através da análise fenomenológica interpretativa, revelando seis temas principais. De forma notável, alguns participantes consideraram a vida em aldeias e na ilha como protetora contra a solidão. As atitudes de indivíduos próximos e profissionais também influenciaram fortemente a sua experiência. Este estudo contribui para a compreensão da solidão em contextos rurais e urbanos insulares, permitindo comparações contextuais.

Versão Reduzida da Escala de Afeto Positivo e Negativo para Crianças (PANAS-C-SF): Propriedades Psicométricas numa Amostra Clínica e Não Clínica de Crianças em Idade Escolar

Brígida do Vale Caiado

Positive and negative affect (PA/NA) are important mechanisms underlying emotional disorders. The Positive and Negative Affect Schedule for Children-Short Form (PANAS-C-SF) is a 10-item self-report measure evaluating PA and NA (five items each) in children. This study investigates PANAS-C-SF factor structure and psychometric properties in children with and without emotional disorders. A sample of 341 Portuguese community children aged 8-13 years (51.8% girls) and 185 children with emotional disorders aged 6-13 years (56.2% girls) was used. A two-factor model was confirmed through confirmatory factor analysis, presenting good model fit in both samples. PANAS-C-SF validity was supported by significant correlations with child anxiety and depression measures. No significant sex effect on PA and NA was observed. A significant age effect was found, with older children exhibiting lower levels of PA than younger ones. The PANAS-C-SF emerged as a valid measure for assessing PA and NA in both community and clinical Portuguese samples. This is the first study to evaluate the factorial structure and psychometric properties of this scale using a clinical sample of children with emotional disorders.

Depressão e Câncer na Perspectiva Psicossomática: estudo de caso múltiplo

Depressão é um fator significativo na progressão do câncer, destacando a importância de investigar fatores psicossociais relacionados à mortalidade e reincidências nos pacientes oncológicos. A Psicossomática sugere que experiências sociais e pessoais positivas e flexibilidade para lidar com perdas protegem contra o adoecimento, moduladas por cuidados na infância e adolescência. Selecionamos duas pacientes com depressão no contexto de tratamento oncológico para estabelecer hipóteses sobre a interação entre fatores psicológicos e evolução do câncer, além dos impactos na qualidade de vida. Realizamos psicodiagnóstico com o Rorschach, Sistema de Avaliação por Performance, o Patient Health Questionnare para o auxílio do diagnóstico da depressão e o EORTC-QLQ-C30 para avaliar sintomatologia e capacidade funcional em pacientes oncológicos além de acompanhar os casos com exames médicos prognósticos. Os achados indicaram impermanencia de relações de cuidado na infância e adolêscencia, o que pode ter contribuido para vulnerabilizar ao adoecimento. Destacamos que após eventos signficativos, o marcador de prognóstico do Caso A elevou-se e o Caso B houve reincidencia tumoral. Embora este seja um estudo de caso, a análise envolveu pacientes de contextos socioeconômicos distintos, permitindo a observação de padrões psicológicos comuns. Além disso, há evidências na literatura sobre a influência do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, por meio dos mecanismos psiconeuroendócrinos, na resposta ao estresse e no desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo o câncer. Dessa forma, pesquisas futuras poderão elucidar melhor como fatores emocionais e de regulação do estresse influenciam a evolução da doença.

Identidade profissional

Daeana Paula Bourscheid, Valéria de Bettio Mattos, Elka Lima Hostensky

O presente artigo discute a relação entre identidade profissional e saúde mental para psicólogos graduados em uma Instituição de Ensino Superior pública brasileira. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória. Foram realizadas entrevistas em profundidade com oito egressos, graduados entre 2013 e 2018, as quais foram submetidas à análise de conteúdo. Os achados indicam que a identidade profissional dos psicólogos atua como fator protetivo à saúde mental ao proporcionar estabilidade e ser mediada por processos de identificação e sentidos do trabalho. O artigo também problematiza o estereótipo de que a saúde mental é inerente à profissão de psicólogo(a), fator que pode levar profissionais em adoecimento mental a se desidentificarem com sua profissão e deixarem de usufruir os fatores protetivos de sua identidade profissional. Os resultados da pesquisa avançam no conhecimento sobre desenvolvimento de identidades profissionais de psicólogos e sua articulação com saúde/adoecimento mental e desenvolvimento de carreira.