Por detrás do véu: uma abordagem arqueotanatológica de uma possível mortalha num cemitério Medieval multirreligioso de Santarém, Portugal
DOI:
https://doi.org/10.14195/2182-7982_41_10Palavras-chave:
Arqueotanatologia, bioarqueologia, tafonomia, amortalhamento, Medieval, Cristão, IslâmicoResumo
A arqueotanatologia tem contribuído de um modo significativo para a compreensão da complexa dinâmica do sepultamento e do tratamento funerário do corpo. Os investigadores que se têm dedicado ao assunto, utilizam esta abordagem na tentativa de reconstruir possíveis vestígios de amortalhamento de cadáveres antes do enterramento que, na maioria das vezes, se degradam completamente. Esta abordagem pode potencialmente revelar evidências funerárias de caixões, apesar da sua ausência do registo arqueológico. Neste trabalho, utilizamos uma abordagem similar para testar a possível utilização de mortalhas no arqueossítio medieval do Largo Cândido dos Reis, em Santarém (Portugal). Dada a sua natureza multirreligiosa (islâmica e cristã), o local apresenta-se como um repositório dos padrões funerários de uma comunidade multirreligiosa, inserida no mesmo espaço geográfico. O amortalhamento do cadáver com “algodão iemenita” (kafan) é frequentemente citado como tradicional para o tratamento funerário islâmico, no entanto, a sua confirmação arqueológica tem-se revelado uma tarefa difícil. Não obstante, o tratamento funerário cristão variavelmente faz referência à utilização de mortalhas. Neste trabalho são analisados 119 indivíduos adultos – 70 islâmicos e 49 cristãos. Estes incluem 75 homens (60%), 36 mulheres (30,25%), uma provável mulher (0,84%) e 7 indivíduos indeterminados (5,88%). Os resultados sugerem que, embora numerosos enterramentos islâmicos mostrem evidências de amortalhamento, a construção estreita e rasa das sepulturas condiciona a interpretação da informação recolhida. Já nos enterramentos cristãos, a presença de mortalha é mais fácil de investigar face às dimensões da sepultura, acompanhado de evidências de constrição. Os dados obtidos sugerem que os rituais funerários islâmicos eram mais normativos, enquanto que os cristãos, revelam uma maior variabilidade, quer nas dimensões das sepulturas, quer nos envoltórios corporais.
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