Cuidado ritual: como os Akha cuidam das suas crianças?

Resumo

Este artigo baseia-se em trabalho de campo de longa duração e propõe uma abordagem cosmológica ao processo de cuidado infantil entre os Akha, uma comunidade étnica minoritária no sudoeste da China. O artigo analisa a definição de infância dos Akha em relação à sua cosmologia, mostrando como as forças cosmológicas são vitais para a sobrevivência e a saúde de uma criança, e como esta perceção molda as práticas de cuidado infantil dos Akha. As crianças são vistas como criaturas do mundo humano e do mundo dos fantasmas, e os pais humanos têm de lutar com os fantasmas para proteger a vida das suas crianças. Dois pares de deuses e deusas de crianças representam ameaças adicionais à sobrevivência e à saúde das crianças, mas também conferem bênçãos e proteção em rituais e ocasiões diárias. Enquanto isso, como as crianças nascem com alma, elas podem adoecer se suas almas ficarem assustadas. Finalmente, existem dois seres hostis associados a grupos étnicos vizinhos que causam doenças, ou mesmo a morte, a crianças vulneráveis. Para proteger as crianças de todas estas múltiplas forças cosmológicas que ameaçam a vida, os Akha desenvolveram várias práticas rituais de cuidado, tais como atos diários de cuidado, talismãs protetores e rituais de cura. Estas práticas destinam-se a lidar com forças cosmológicas e, como tal, transcendem dimensões mais seculares do cuidado corporal e emocional (incluindo formas biomedicalizadas de cuidado), ampliando assim o significado e o alcance daquilo que se entende convencionalmente como incluído no trabalho de cuidado por parte de cientistas sociais e profissionais médicos que abordam o assunto com um paradigma estritamente secular.