Como usar a linguagem para precisar o movimento: uma disputa entre Platão e Heráclito
DOI:
https://doi.org/10.14195/1984-249X_15_9Palavras-chave:
Heráclito, Platão, Movimento, Discurso, EstiloResumo
A proposta do texto é delinear como Heráclito e Platão lidaram com o problema de usar a linguagem para falar do movimento. A perspectiva ontológica de que eles partem é quase oposta. Heráclito vê o mundo como movimento contínuo enquanto, para Platão, o que está em movimento participa, em alguma medida, das Ideias estáti-cas. É deste ponto de vista que no Teeteto (183b-c) Sócrates encarrega os Heraclitianos de criarem um novo discurso caso queiram falar da sua concepção de mundo. A observação tem um tom crítico, mas não parece estar muito errada se consultarmos os fragmentos do pré-socrático. Em B1 Herá-clito declara discorrer segundo a natureza. Utilizando isso como justificativa tomo B67 como um paradigma de como o Efésio repete a ordem do mundo (kosmos) na ordenação dos seus discursos (logos). A primeira palavra, deus, seria o unificador, enquanto os pares de opostos subsequentes citados sem uso de conectivos (sincategoremas) demonstra-riam esta união. Uma vez construída esta concepção retorno ao Teeteto onde Platão oferece outra estratégia de uso da língua para falar do movimento. Ao contrário de Heráclito, ele recorre aos sincategoremas para unir os opostos. Um mobilista deveria falar que algo é ‘assim’ (houtos) e ‘não assim’ mostrando, desta maneira, o estatuto ambíguo das coisas. Como este estatuto não é reconhecido por Platão trata-se de uma crítica à ontologia mobilista. O passo final é ver como Platão usa a linguagem para falar da sua ontologia particular. O discurso usado para se referir às Ideias repete a estratégia de recorrer aos sincategoremas uma vez que a Ideia de algo é dita ser algo ‘em si’ (autos). A conclusão é que enquanto Heráclito tenta suprimir sua linguagem das palavras que não têm referente além do discurso Platão recorre exatamente a elas para precisar sua referência.
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