Para além da dicotomia entre corpo e alma: notas sobre o “argumento da afinidade” (77e-80d) no Fédon de Platão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14195/1984-249X_34_21

Palavras-chave:

corpo, alma, morte, imortalidade, cognição, teoria das Ideias.

Resumo

O terceiro argumento a favor da imortalidade da alma no Fédon, que a tradição exegética também costuma chamar de “argumento da afinidade” (77e-80d), apresenta uma curiosa relação entre corpo e alma que, por vezes, é vista por intérpretes como uma dicotoma radical. Para discutir esse trecho do Fédon na tentativa de ultrapassar a suposta dicotomia entre alma e corpo que se imputa a Platão neste diálogo, propõe-se neste artigo uma análise minuciosa do argumento em duas etapas, ele próprio consistindo em dois níveis: (i) a analogia entre a alma e as Ideias (78b-79c), (ii) e a analogia entre a alma e o divino (80a-c). Devido às controvérsias que este argumento tem gerado e na confiança de que esse debate está longe de atingir o seu termo, este artigo tem como objetivo responder a três perguntas: como entender o argumento da afinidade na economia do Fédon como um todo? Além disso, como compreender a relação entre corpo e alma nesse argumento? Por fim, a letra do texto platônico permite, de fato, inferir uma dicotomia radical entre alma e corpo? Como veremos, Sócrates está menos interessado em oferecer uma demonstração lógica da imortalidade da alma do que um discurso exortativo para curar os seus companheiros do temor de que a alma desaparece com a morte do corpo. Trata-se então da oportunidade perfeita para discutir esses dois elementos que constituem o fenômeno efêmero e transitório chamado “homem” (ánthropos), bem como seus modos de cognição e o seu comportamento ético.

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Publicado

2024-12-02

Como Citar

de Simoni Milione, V. (2024). Para além da dicotomia entre corpo e alma: notas sobre o “argumento da afinidade” (77e-80d) no Fédon de Platão. Revista Archai, (34), e03421. https://doi.org/10.14195/1984-249X_34_21

Edição

Seção

Artigos