Platão e Iris Murdoch
o Bem, o Amor e a retomada da ética das virtudes antiga na filosofia moral britânica
DOI:
https://doi.org/10.14195/1984-249X_26_3Palavras-chave:
Platão, Bem, Iris Murdoch, AmorResumo
Desde a publicação, em 1958, do famoso artigo A Filosofia Moral Moderna de G. E. M. Anscombe estabeleceu-se uma espécie de consenso em torno da necessidade de as teorias ético-filosóficas contemporâneas ampliarem sua agenda de análise para além das noções de dever e obrigação. Esse movimento conduziu à redescoberta de concepções morais antigas ligadas à constituição de um caráter virtuoso e da conquista da felicidade ou bem-viver, especialmente a ética de Aristóteles e dos filósofos estoicos. Nesse artigo eu mostro que a filósofa e escritora britânica Iris Murdoch participou desse movimento de redescoberta da ética das virtudes antiga, localizando na filosofia de Platão, e não na filosofia de Aristóteles ou dos estoicos, um instrumento de crítica às teorias morais de seu tempo, uma crítica caracterizada pela substituição da noção tipicamente moderna da vontade racional do agente por noções profundamente vinculadas à filosofia platônica, como o “amor” e “atração” pelo Bem, entendidos como constituintes de um modelo de orientação moral objetiva. Diferente de Platão, no entanto, o Bem e seu poder de engajamento e atração, é explorado como uma fonte ético-metafísica com um significado psicológico muito particular. Ele é caracterizado, em termos da psicologia moral de base psicanalítica por ela adotada, como um olhar amoroso do outro e como um desejo de ver a realidade, entendido como um desejo pessoal de sermos justos e bons, o que dá um sabor psicológico-naturalista à sua reinvindicação da filosofia platônica.
Downloads
Referências
ANNAS, J. (1993). The Morality of Happiness. New York, Oxford University Press.
ANSCOMBE, G. E. M. (1958). Modern Moral Philosophy. Philosophy 33, p. 1-19.
ANTONACCIO, M. (2000). Picturing the human: the moral thought of Iris Murdoch. New York, Oxford University Press.
BARKER, E. (1978). Teoria Política Grega. Brasília, UnB.
BLUM, L. (2012). Visual Metaphors in Murdoch’s Moral Philosophy. In: BROACKES, J. (ed.). Iris Murdoch, Philosopher. A collection of Essays. Oxford, Oxford University Press, p. 307-325.
COTTINGHAM, J. (1998). Philosophy and Good Life. Oxford, Oxford University Press.
CRISP, R.; SLOTE, M. (eds.) (1997). Virtue Ethics. Oxford, Oxford University Press.
FOOT, P. (1978). Virtues and Vices. Oxford, Blackwell.
GOLDIE, P. (2007). Seeing what is the kind thing to do: perception and emotion. Dialethica 61, n. 3, p. 347-361.
HURSTHOUSE, R. (1999). On Virtue Ethics. Oxford, Oxford University Press.
HURSTHOUSE, R.; PETTIGROVE, G. (2016). Virtue Ethics. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2016 Edition). Edward N. Zalta (ed.). Available at https://plato.stanford.edu/archives/win2016/entries/ethics-virtue/.
KAMTEKAR, R. (2004). Situationism and Virtue Ethics on the Content of Our Character. Ethics 114, p. 458-491.
LOUDEN, R. (1992). Morality and Moral Theory: a reappraisal and reaffirmation. New York, Oxford University Press.
MCDOWELL, J. (1979). Virtue and Reason. The Monist 62, n. 3, p. 331-350.
MERRITT, M; DORIS, J.; HARMAN, G. (2010). Character. In: DORIS, J. The Moral Psychology Handbook. Oxford, Oxford University Press, p. 355-401.
MURDOCH, I. (1993). Metaphysics as a Guide to Morals. London, Allen Lane/Penguin Press.
MURDOCH, I. (1998). Existencialists and Mystics. London, Penguin.
MURDOCH, I. (2001). The Sovereignty of Good. London, Routledge.
MURDOCH, I. (2013). A soberania do Bem. São Paulo, Edusp.
PEREIRA, M. H. R. (trad.) (1985). Platão. A República. Lisboa, Calouste Gulbenkian.
PORCHAT, O. (2007). Rumo ao ceticismo. São Paulo, EdUNESP.
RODIS-LEWIS, G. (1981). Platón. Madrid, EDAF.
TRABATTONI, F. (2005). Platão. Trad. Gabriele Cornelli. São Paulo, Annablume.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Dado o acesso público desta revista, os textos são de uso gratuito, com obrigatoriedade de reconhecimento da autoria original e da publicação inicial nesta revista. O conteúdo das publicações é de total e exclusiva responsabilidade dos autores.
1. Os autores autorizam a publicação do artigo na revista.
2. Os autores garantem que a contribuição é original, responsabilizando-se inteiramente por seu conteúdo em caso de eventual impugnação por parte de terceiros.
3. Os autores garantem que a contribuição que não está em processo de avaliação em outras revistas.
4. Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho licenciado sob a Creative Commons Attribution License-BY.
5. Os autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line após a publicação na revista.
6. Os autores dos trabalhos aprovados autorizam a revista a, após a publicação, ceder seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais e similares.
7. É reservado aos editores o direito de proceder ajustes textuais e de adequação do artigo às normas da publicação.