Para uma epistemologia das fontes
Quem fala através delas?
DOI:
https://doi.org/10.14195/2182-7974_38_1_3Palavras-chave:
Fontes, Arquivos, Vozes, Categorização, DesistoricizaçãoResumo
Habitualmente, os historiadores em França reconhecem que a sua tarefa é “fazer falar as fontes”. O que poderia parecer uma mera questão de natureza técnica (dar a conhecer aquilo que as fontes contêm) esconde, no entanto, um equilíbrio de poder que é certamente intrínseco ao campo académico da História. De facto, “fazer falar as fontes” coloca um problema tanto no conceito de “fontes” como no verbo “falar”. Inicialmente, a questão central para uma disciplina que se assume como um modo de conhecimento indireto era tornar o meio transparente, como se pudéssemos ouvir diretamente os testemunhos e, assim, chegar à verdade das coisas. Daí a utilização de um conjunto de metáforas naturalizantes para designar o material histórico, que excluiu da reflexão histórica a consideração dos efeitos ligados às condições de transmissão e, em particular, do arquivamento (seleção, classificação, inventário), elementos que só começaram a surgir no horizonte dos historiadores a partir do início do século XXI, no contexto da “viragem documental”. Contudo, a questão das vozes presentes nas fontes permaneceu, passando a ser abordada a partir de preocupações éticas, que conferem à “viragem arquivística” um tom claramente distinto do da “viragem documental”. Coloca-se assim a questão de saber até que ponto esta busca pelas vozes a serem recuperadas não só reintroduz o sonho do acesso não mediado ao passado, mas também sobrevaloriza o indivíduo em detrimento da sociedade, fazendo parte de uma regressão na racionalidade coletiva.
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