Construindo melhores futuros arquivísticos através do reconhecimento da injustiça epistémica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14195/2182-7974_38_1_7

Palavras-chave:

Arquivos coloniais, Injustiça epistémica, Decolonialidade

Resumo

Em 2024, a Universidade de Amesterdão lançou uma nova área prioritária de investigação, “Decolonial Futures”, que se centra na transformação de arquivos, museus e instituições culturais para ter em conta os legados coloniais. Este texto foca-se nos arquivos coloniais geridos por instituições arquivísticas. A questão central é identificar quais são as formas de injustiça que estão incorporadas nesses arquivos e como podem as instituições arquivísticas construir melhores futuros arquivísticos com base no reconhecimento dessas injustiças. Os arquivos coloniais são inerentemente problemáticos enquanto recursos de conhecimento, uma vez que antes de mais refletem as perspetivas das autoridades coloniais, distorcendo e silenciando frequentemente as vozes das populações colonizadas. Com base no conceito de injustiça epistémica de Miranda Fricker, podem ser identificadas duas formas principais de injustiça: a injustiça hermenêutica e a injustiça testemunhal. A injustiça testemunhal ocorre, segundo Fricker, quando um ouvinte dá “um nível de credibilidade reduzido à palavra de um orador”, muitas vezes com base no género ou na raça do orador. A injustiça testemunhal resulta frequentemente da injustiça hermenêutica, que envolve preconceitos estruturais de identidade. Fricker define a injustiça hermenêutica como “a injustiça de ter (...) a experiência social de alguém obscurecida da compreensão coletiva devido a um preconceito estrutural de identidade no recurso hermenêutico coletivo”. A utilização da lente da injustiça epistémica oferece oportunidades valiosas para compreender melhor a natureza problemática dos arquivos coloniais, ao mesmo tempo que fornece às instituições arquivísticas orientações sobre como evitar a perpetuação de injustiças ao criar espaços de arquivo digital. Este texto partilha as experiências de um projeto iniciado pelo Arquivo Nacional dos Países Baixos para mapear a forma como os representantes das comunidades afetadas, bem como os dos sectores académico e do património, percebem a necessidade e as possibilidades de as instituições de arquivo se envolverem com estes arquivos de uma forma diferente, decolonial, com o objetivo de criar um registo histórico mais inclusivo e de servir melhor as comunidades marginalizadas pela história.

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Publicado

2025-04-17