BR-163: “homens sem terra” para “a terra sem homens”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14195/0871-1623_39_4

Palavras-chave:

Amazônia, BR-163, PIN, índios, colonos

Resumo

Em 1970, o governo brasileiro deu início ao projeto de construção das grandes estradas na Amazônia, com destaque para a Transamazônica, cortando a região de leste a oeste, e a BR-163, a Cuiabá-Santarém, de sul a norte — estradas que se cortavam em forma de cruz e abriam eixos de penetração e integração. Em 16 de junho de 1970, foi criado o Plano de Integração Nacional (PIN). O deslocamento de camponeses de áreas submetidas à “pressão demográfica” é oficializado e o discurso de ligar o homem sem terra do Nordeste à terra sem homem da Amazônia é posto em prática, de forma caótica e socialmente injusta. Em dezembro de 1974, a Cuiabá-Santarém foi aberta ao tráfego. No Mato Grosso, a estrada motivaria a penetração de grandes projetos agropecuários e de colonização comandados por grupos particulares. No Pará, no trecho entre Santarém e Rurópolis (no entroncamento da Cuiabá-Santarém com a Transamazônica), predominaria a colonização dirigida para pequenos proprietários, comandada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Ao longo de toda a estrada, a valorização das terras, a atração de correntes migratórias e a especulação fundiária teriam impactos imediatos sobre a população local — especialmente os povos indígenas. As nossas considerações finais permite-nos, a título de conclusão, afirmar que as sucessivas mudanças dos “planos de desenvolvimento”, ao sabor das conjunturas políticas e econômicas, contribuíram para a falência da grande maioria dos projetos de colonização. A nossa conclusão está voltada para algumas variáveis que apontam para a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento regional: Um modelo excludente: no esforço de escolher uma imagem que seja reveladora do ambiente da fronteira atual eu diria que esta é o da exclusão. Um modelo produtivista: após vinte anos é o agronegócio que, notadamente no Mato Grosso, conhece o mais forte desenvolvimento, sustentado pela necessidade do Brasil obter divisas a partir de produtos exportáveis como a soja. Deflorestamento e fragmentação contínua das florestas amazônicas.

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Referências

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Publicado

2019-05-27