Heresia e martírio em Vida, e Morte Tragica de Maria Stuart de Francisco de Sousa da Silva Alcoforado Rebelo (1737)
DOI:
https://doi.org/10.14195/2184-7681_53/54_2Palavras-chave:
Mary Stuart, Catolicismo, Protestantismo, Elisabete I, Estudos Anglo-PortuguesesResumo
Não aparenta ter abundado o interesse por rainhas britânicas, da parte dos homens de Letras portugueses, ao longo do Período Moderno, pelo menos no que respeita a fontes impressas. O presente artigo debruça-se sobre um livro ao qual se pode reconhecer um estatuto singular, na medida em que é, presumivelmente, a única biografia desenvolvida de uma figura real britânica – trate-se de reis, trate-se de rainhas – escrita por um autor português no espaço de vários séculos. O objectivo reside em efectuar uma breve apresentação de uma obra que tem permanecido ignorada mas que merece ser conhecida no contexto dos intercâmbios culturais luso-britânicos.
Em conformidade, o artigo oferece informes acerca do autor, Francisco de Sousa da Silva Alcoforado Rebelo, e uma análise dos métodos historiográficos, do estilo e das intenções subjacentes a Vida e Morte Tragica de Maria Stuart, Rainha de França, e Escocia, e Pertendente da Coroa de Inglaterra, obra publicada em Lisboa no ano de 1737. Esta biografia de Maria, Rainha dos Escoceses será situada na tradição de louvor de Maria como mártir do Catolicismo, tradição essa que sublinha as virtudes cristãs da monarca assim como a sua inocência no que concerne às acusações que enfrentou e que conduziram à sua execução. Ler-se-á o trabalho de Rebelo como um estudo de caracteres que contrapõe Isabel I a Maria, figurando esta última como exemplo consumado de constância e de piedade, merecedor de uma coroa de graça. Outros aspectos da obra que justificam menção são a crítica aos protestantes, e em especial aos calvinistas, como grupo político-religioso caracterizado pela perfídia e a descrição da Escócia como reino acometido de rivalidades, conflitos e traições.