Um olhar sobre o Cordeiro Pascal em Portugal a partir do capítulo XII do livro do Êxodo
DOI:
https://doi.org/10.14195/2976-0232_2_11Palavras-chave:
Cordeiro, Páscoa, Integridade, Eucaristia, PastoríciaResumo
O Capítulo XII do livro do Êxodo inspirou a investigação seguida neste estudo, cuja trajetória visa cruzar a materialidade com a misticidade do Cordeiro em contexto de festim pascal. Desde a Antiguidade que este quadrúpede tanto se enquadra nas práticas alimentares comuns como, nessa esteia, responde às questões do foro simbólico. A paisagem ovina que dominava o modus vivendi anterior e paralelo ao corpus bíblico gerou familiaridade com os autores sagrados, o que os motivou a incorporá-la nos textos. Face aos seus atributos taxonómicos, desde os primórdios da pastorícia e da agricultura, que o Cordeiro, a par dos ázimos, foi escolhido para símbolo pascal. Na altura, imolado o primogénito do rebanho e colhidas as primícias das searas, o povo oferecia-os como dons a Deus. Desde então até à atualidade, a cultura do Ocidente, particularmente a portuguesa, prossegue o uso do Cordeiro pascal na sua duplicidade profana e sagrada. Se o primeiro envolve o consumo da sua carne em contexto de refeição pascal, já o segundo projeta o Cordeiro como ente sobrenatural. Embora vá assumindo múltiplas identidades ao longo dos textos bíblicos, o Cordeiro permanece na história religiosa e cultural através do solene ritual eucarístico, circunstância em que se evoca a imagem de Cristo ressuscitado enquanto metáfora do triunfo humano sobre os que na sua ótica simbolizam o Mal. Trata-se de um banquete que se iniciou nos cultos pagãos antigos, que passou pelo Êxodo hebraico e pela Páscoa cristã, e que se perpetua não como alimento natural, passageiro, próprio do peregrino, mas como alimento místico que sacia para além dos limites humanos.
