Archive and/as Montage in The City as Text: Exposing the Chilean Social Uprising

Resumo

Em outubro de 2019, um aumento nas tarifas do metro de Santiago desencadeou uma revolta generalizada contra o regime de direita de Sebastián Piñera e, mais amplamente, contra as brutais desigualdades do sistema neoliberal instalado durante a ditadura de Augusto Pinochet, apoiada pelos EUA, e mantido nas últimas três décadas pelos partidos políticos institucionais e pelas classes dominantes. Como as vozes da revolta indicaram abertamente: “Não são 30 pesos, são 30 anos”. Após a ditadura – entre pactos de silêncio, proclamações de um futuro já reconciliado e processos insuficientes e incompletos de justiça e reparação –, a produção cultural tem desempenhado um papel importante no estabelecimento de relações com o passado que não monumentalizam nem silenciam seus transbordamentos anacrónicos. É neste contexto que leio La Ciudad como Texto, de Carola Ureta Marín, que registra as expressões gráficas da revolta social chilena, exibindo digitalmente uma fotomontagem dos muros grafitados da Alameda no trigésimo sexto dia de protestos, ao lado de trinta e seis textos que foram acrescentados à montagem em forma de “notas de rodapé”. Proponho que, ao expor temporalidades, autoria e média, e ao expor a construção narrativa e a mediação deliberada em jogo na representação histórica, a obra La Ciudad como Texto cumpra a tarefa crítica que Derrida confia à ficção: atestar o segredo anárquico do arquivo de modo a permitir pensar sua natureza protética e suas aporias. É esta condição anárquica – esta dependência de um suplemento exterior – que concede ao arquivo a sua possibilidade redentora, a promessa que faz ao futuro ao tornar (i)legível um acontecimento passado. Essas tecnologias complementares possibilitam eventos de leitura, leituras que produzem o momento originário e expõem os vazios que ele deixa para o futuro, leituras que trazem à tona as possibilidades e valências do evento. Sugiro que é através da modalidade particular de montagem que La Ciudad como Texto multiplica eventos de leitura, tratando o arquivo não como “o local de uma narrativa, mas um local de desnarrativização; não uma região de compreensão, mas um espaço de exposição” (Moreiras 10).