Celebrado, desenhado e cortado: o ideograma romano do pão (Parte 1)
DOI:
https://doi.org/10.14195/2976-0232_1_1Palavras-chave:
Romano, Comida, Retórica, Arqueologia, PãoResumo
Quando duplicado, o valor icónico de um monumento, de uma divindade ou de um objeto, pode evocar narrativas de intervenção divina, grandes feitos ancestrais e até determinados atributos romanos. O simples pão de trigo comum, redondo e segmentado em fatias, era produzido e consumido por todas as classes sociais em Roma. A importância deste pão na vida quotidiana, na indústria e na economia romanas, conferiu-lhe traços ideogénicos portadores de equilíbrio social e de uma estabilidade que ainda hoje carecem de um estudo mais aprofundado. Este artigo, que será dividido em duas partes, procura analisar através de alguns estudos de caso com evidência literária e arqueológica a natureza alegórica do pão, para além da sua dimensão dietética, e o seu uso como símbolo da cultura material. Na primeira parte, apresentam-se exemplos relativos ao tratamento do tema do pão em diferentes géneros literários (da poesia antiga à historiografia, passando pela sátira, pelo registo biográfico e pela prosa), fazendo incidir a análise nos tropos que comparecem nas narrativas romanas. Na segunda parte, indagar-se-á de que forma esses traços metafóricos e temáticos são transpostos visualmente para os mosaicos, frescos, graffiti e monumentos da esfera pública e privada. Através deste percurso, conclui-se que o panis quadratus era mais do que um produto ecónomico e acessível, tendo-se tornado um ideograma representativo da coesão social do Império Romano, especialmente nas relações entre o discurso trivial e o universo real e ficcional.