“Além”, o Poema Russo de Mário de Sá-Carneiro
DOI:
https://doi.org/10.14195/2183-847X_13_11Palavras-chave:
génese, poética, tradução, Fernando PessoaResumo
Este artigo examina tanto o processo de criação de “Além” e “Bailado”, de Mário de Sá-Carneiro, incluídos em Céu em Fogo como um apêndice a “Asas”, como o desenvolvimento paralelo da narrativa ficcional da sua génese. Ambos estão amplamente documentados na correspondência entre Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, em que aquele expõe uma poética própria, que tem como conceito central a ideia de transvio. Assumindo o carácter ostensivamente fragmentário desses textos, cujo sentido seria apenas sugerido e não coerentemente afirmado, Sá-Carneiro apresenta-os como uma tentativa de tematizar a distância entre a ideia abstracta do texto e a sua realização material. É esta poética o objecto de reflexão na primeira parte deste artigo.
Na segunda, deter-nos-emos na moldura ficcional criada em “Asas” para salvar e tornar legíveis “Além” e “Bailado”, depois das críticas de Pessoa, que os considerara ininteligíveis. Serão ambos apresentados, finalmente, como traduções de textos atribuídos ao poeta ficcional Petrus Ivanovich Zagoriansky, autor de um Poema perfeito que se teria desmaterializado no momento da sua conclusão. Estas traduções seriam tudo o que restava da sua obra. Os deslocamentos autorais (e linguísticos) implicados por esta moldura traduzirão em termos narrativos a mencionada ideia do transvio.
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