Armadilhas da memória

Quando o eu é um outro em Contra mim de Valter Hugo Mãe.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14195/2183-847X_15_13

Palavras-chave:

Valter Hugo Mãe, autobiografia, narrativa, autor, objetividade

Resumo

O presente artigo, a partir da análise de Contra Mim (2020), obra de cariz autobiográfico de Valter Hugo Mãe, pretende questionar os pressupostos deste subgénero literário, situado nos limites vertiginosos entre ficção e não-ficção.

 Com efeito, numa primeira etapa, procurar-se-á ver em que medida esta obra particular se aproxima do registo canónico daquilo que é uma autobiografia (que assume uma alegadamente forte garantia de verdade, promove uma entrada nos espaços de intimidade do (auto)biografado e, no caso da vida de escritores, ajudará eventualmente a compreender a obra ficcional do seu autor).

Posteriormente, ver-se-á de que forma se estabelece um jogo metaléptico, de apresentação do autor/escritor como um Outro, em função das características complexas do género autobiográfico, nomeadamente: a sua complexa e difícil objetividade (que podem comprometer os seus fundamentos de verdade); os constrangimentos associados à tradução da totalidade de uma existência, que dá origem à seleção de episódios considerados exemplares, obnubilando outros porventura tão ou mais importantes; a construção de um relato não-ficcional, que não deixa de ser lido por comparação com as restantes obras desse mesmo escritor.

Em conclusão, Contra Mim demonstrará como a autobiografia só pode ser escrita contra si mesma.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Barthes, Roland. 1966. « Introduction à l’analyse structurale des récits », Communications, n° 8, Paris, pp. 1-27.

Belsey, Catherine. 1982. A prática crítica. (tradução de Ana Isabel Sobral da Silva Carvalho) Lisboa: Edições 70.

Benjamin, Walter. 1992. Sobre arte, técnica, linguagem e política (traduções de Maria Luz Moita, Maria Amélia Cruz e Manuel Alberto). Lisboa: Coleção Antropos, Relógio d’Água.

Camps, Victoria. 1993. Paradoxos do individualismo. (tradução de Manuel Alberto) Lisboa: Coleção Antropos, Relógio d’Água.

Foucault, Michel. 1992. O que é um autor? (tradução de António Fernando Cascais e Edmundo Cordeiro). Lisboa: Veja.

Mãe, Valter Hugo. 2020. Contra Mim. Porto: Porto Editora.

Man, Paul de. 1989. A resistência à teoria. (tradução de Teresa Louro Pérez) Lisboa, Edições 70.

Osborne, Peter. 2000. Philosophy in Cultural Theory. London and New York: Routledge.

Ricoeur, Paul. 2009. Teoria da interpretação – O discurso e o excesso de significação. 2009. (tradução de Artur Morão) Lisboa: Edições 70.

##submission.downloads##

Publicado

2025-09-26