Armadilhas da memória
Quando o eu é um outro em Contra mim de Valter Hugo Mãe.
DOI:
https://doi.org/10.14195/2183-847X_15_13Palavras-chave:
Valter Hugo Mãe, autobiografia, narrativa, autor, objetividadeResumo
O presente artigo, a partir da análise de Contra Mim (2020), obra de cariz autobiográfico de Valter Hugo Mãe, pretende questionar os pressupostos deste subgénero literário, situado nos limites vertiginosos entre ficção e não-ficção.
Com efeito, numa primeira etapa, procurar-se-á ver em que medida esta obra particular se aproxima do registo canónico daquilo que é uma autobiografia (que assume uma alegadamente forte garantia de verdade, promove uma entrada nos espaços de intimidade do (auto)biografado e, no caso da vida de escritores, ajudará eventualmente a compreender a obra ficcional do seu autor).
Posteriormente, ver-se-á de que forma se estabelece um jogo metaléptico, de apresentação do autor/escritor como um Outro, em função das características complexas do género autobiográfico, nomeadamente: a sua complexa e difícil objetividade (que podem comprometer os seus fundamentos de verdade); os constrangimentos associados à tradução da totalidade de uma existência, que dá origem à seleção de episódios considerados exemplares, obnubilando outros porventura tão ou mais importantes; a construção de um relato não-ficcional, que não deixa de ser lido por comparação com as restantes obras desse mesmo escritor.
Em conclusão, Contra Mim demonstrará como a autobiografia só pode ser escrita contra si mesma.
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Referências
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