Formas tecnológicas e formas da comunicação nos artefactos e nos media
DOI:
https://doi.org/10.14195/0872-0851_58_3Palabras clave:
Tecnologia, Media, Comunicação, Arte, DADA, Mercadoria, MáquinaResumen
O senso comum dá-nos motivos para acreditar que a identidade dos seres vivos naturais é diferente da identidade dos artefactos. Alegadamente, a identidade dos artefactos está dependente da forma que lhes é atribuída pelos seus criadores e não lhes vem de dentro, não é imanente. Digamos que é esta a distinção que, em geral, se presume entre “corpos vivos organizados” e “corpos artificiais organizados”. Ao presumir um ato construtivo humano, o corpo organizado artificial recebe de fora o seu princípio organizador e o que define o seu uso. As obras de arte contam-se entre estes objetos assim como os instrumentos. No século XIX, algumas descrições sobre as manufaturas tinham chegado a uma definição de máquina como um corpo organizado dotado de moção interna, colocando assim o problema do estatuto das máquinas entre os artefactos. Não se estranha que um dos problemas recorrentes nas discussões filosóficas atuais sobre a técnica e a arte seja o do estatuto da dependência mental, intencional, dos artefactos. Essas discussões demonstraram que a dependência mental não pode ser avaliada sem clarificar a comunicação. Pode assim objetar-se aos autores exclusivamente preocupados com o tema restrito da intencionalidade da dependência mental o esquecimento da orientação comunicativa da produção, manual ou industrial, e do seu destino social. Com o presente estudo pretende mostrar-se como a herança platónica da mimésis, exemplificada com as “três camas” de República X, 597 b e ss., embora supondo uma dimensão comunitária, restritiva, do fazer técnico, está presente nos pressupostos de algumas versões teóricas modernas da técnica, da produção industrial e da arte. Clarificam-se as noções do artífice como produtor para a comunidade, do artefacto e da máquina na indústria para identificar os contrastes entre formas históricas distintas de compreender o fazer técnico e as correspondentes ressonâncias semânticas e teóricas. Seguidamente, caracteriza-se o discurso da crítica cultural, representado em alguns textos de Walter Benjamin, Theodor Adorno e Herbert Marcuse, como uma orientação teórica conservadora frente à autonomia da comunicação na modernidade, à expansão da produção industrial automatizada segundo diagramas e a sua aplicação aos produtos da arte. À luz de um escrutínio dos transmorfos da arte modernista, particularmente no DADA, revela-se como a arte explorou as colisões morfológicas resultantes da combinação entre motivos orgânicos, artísticos tradicionais e industriais para pôr a comunicação no centro do fazer artístico, desafiar a intencionalidade do autor e potenciar novas situações estéticas. O alcance das atitudes reativas perante o moderno, que o descrevem como unidimensional e redutor, fica assim limitado. Indo ao encontro das várias dimensões da remarcação do mercantil e do artístico nos transmorfos da arte conceptual, conclui-se este trabalho com a tese de que a comunicação artística, como sobrecodificação de vários media, tem a faculdade de redimensionar os emissores, destinatários e mensagens, mesmo quando tem lugar em meios de difusão estandardizados ou mercantilizados.
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