Ricoeur between Ithaca and the isle of the Phaecians

Autores

  • Silvia Pierosara Universidade de Macerata

DOI:

https://doi.org/10.14195/0872-0851_64_12

Palavras-chave:

configuração narrativa, fragilidade, Odisseia, poder, reconhecimento

Resumo

O objetivo deste artigo é fazer uma análise crítica da leitura ricœuriana da questão do reconhecimento na Odisseia de Homero. A hipótese que se apresenta aqui é a de que esta leitura ricœuriana só mostra um dos lados da moeda, uma vez que se foca quase exclusivamente no reconhecimento recebido por Ulisses quando volta a Ítaca incógnito. Ricœur sublinha o carácter unilateral desse reconhecimento, o qual mais não visa que restabelecer o poder de Ulisses enquanto rei. De acordo com o argumento de Ricœur, ser reconhecido como rei de Ítaca não implica o reconhecimento dos seus súbditos, e mais não é que uma demonstração de poder. Contudo, há outra leitura possível das cenas de reconhecimento na Odisseia, ainda que Ricœur não as tenha em conta. Com efeito, outro momento da história do reconhecimento pode ser encontrado na Ilha dos Fenícios, e este não nos remete para a “vontade de poder” mas para a fragilidade de Ulisses. Quando Demódoco, o poeta na corte do rei Alcínoo, começa a cantar a história do famoso herói Ulisses, que ali se encontrava incógnito, Ulisses não consegue conter as suas lágrimas e, no fim, revela a sua identidade. Nesta cena, Ulisses não procura reconhecimento. Pelo contrário, tal reconhecimento é-lhe concedido de forma inesperada. Este ato de reconhecimento revela a fragilidade do herói, que se descobre nas palavras dos outros, e percebe que depende deles para ser, para existir e, no final, para regressar a casa. Esta espécie de “reconhecimento pela fragilidade” é possibilitada por uma dimensão narrativa na qual Ulisses é acolhido, e cujo poder de configuração e refiguração torna possível ao herói designar este sentimento como um sentimento de “nostalgia”.

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Publicado

2023-10-26