Vivendo como se existissem deuses
o mal e a filosofia em Platão
DOI:
https://doi.org/10.14195/2183-1718_84_2Palavras-chave:
mal, Platão, ausência de bemResumo
A temática do mal não é vista por Platão como tema central e, por isso mesmo, não encontramos uma resposta sistemática e abrangente, antes parece configurar-se como uma necessidade: responder à pergunta do mal apenas enquanto elemento do mundo sensível, não tendo qualquer relevância para o mundo real (o mundo das ideias). Assim, partindo da leitura de Teeteto 176a-177a, procuraremos encontrar os detalhes da visão platónica que nos permitem identificar a noção de κακός como suplemento da noção de mundo sensível e, em contraposição, com o bem (ἀγαθὸς). A primeira noção a sublinhar (e que vai ter repercussão na idade média) é que o mal não é uma questão nem do destino nem uma criação divina (ou em si mesmo uma essência supranatural). Assim, ao contrário de algumas heranças cristãs e gnósticas, em que o mal aparece revestido de uma estrutura positiva, isto é, uma força que influi no mundo com uma teleologia própria, mas uma imperfeição, uma falta, uma ignorância, uma ausência de bem. Ora, cada um destes aspetos podem ser considerados detalhes do mal: a imperfeição é uma questão metafísica, sem beliscar a criação de deus, pois dele só surgiu o bem e todas as coisas boas; uma falta, ou corrupção da alma (como apresentado no Fédon, 79c) e como o corpo é o que proporciona o mal; a ignorância, como ela mesma fator de mal (aqui como não recordar a divisão nos diferentes tipos de conhecimento (Livro VII, República) sendo que só a educação poderá libertar o homem; a ausência de bem, isto é, a ausência da influência da forma do bem no mundo. Assim, bem e mal, apesar de não terem a mesma essência, e este ser sobretudo ausência, tal não deixa de levar Platão a uma espécie de maniqueísmo avant la lettre, onde os maus se juntam aos maus (κακοὶ κακοῖς συνόντες, Teeteto, 177a) e os filósofos, que devem procurar viver como um deus.
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