O DECORO DE UMA PROSTITUTA
DOI:
https://doi.org/10.14195/2183-847X_6_13Palavras-chave:
Machado de Assis, “Singular ocorrência”, prostituta, moralidade, teatralidade, performanceResumo
Entre as mudanças que abalaram a paisagem sensível europeia no final do século XIX, uma das mais inquietantes diz respeito à fabulação literária sobre a prostituta. O imaginário em torno do amor venal se modificou em paralelo ao gosto de um público cada vez menos identificado com as virtudes das heroínas românticas. No Segundo Império, a capital francesa viu surgir um novo tipo de oferta sexual que atendia as demandas do apetite burguês para o consumo e o prazer: circulando à vontade pelas ruas parisienses, a prostituta moderna era reconhecida, antes de tudo, por sua espetacular teatralidade. Tais transformações repercutiram na literatura brasileira de modo particular. Afinal, no final de Oitocentos, o país estava longe de partilhar a sociabilidade que dava base a essas mudanças na França, e os velhos valores patriarcais, católicos e escravocratas resistiam às equações mais modernas entre forma literária, erotismo e moralidade. É a partir desse quadro que se interpreta o conto “Singular ocorrência” (1883) de Machado de Assis, talvez o primeiro texto brasileiro a demarcar uma mudança no modo de representar a personagem. Na história supostamente banal do relacionamento entre um homem poderoso e uma “Maria de tal”, interroga-se a performance da protagonista, cuja “discreta teatralidade” faz eco aos atributos das cortesãs europeias.
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