A visão do Outro nas Cartas de Itália de Lopo de Almeida

Autores

  • Paulo Esmeraldo Catarino Lopes Universidade de Coimbra

DOI:

https://doi.org/10.14195/1645-2259_11_5

Palavras-chave:

Visão do Outro, Encontro civilizacional, Imperador Habsburgo Frederico III, Política de casamentos, Referentes culturais, Costumes cortesãos, Modelos de comportamento social

Resumo

Em Novembro de 1451 partia de Portugal com destino a Itália a comitiva de acompanhamento da infanta D. Leonor, segunda filha de D. Duarte e irmã de D. Afonso V, para confirmação do seu casamento com o imperador Habsburgo Frederico III.

Notável iniciativa diplomática e ocasião única de afirmação e de internacionalização da monarquia portuguesa, este matrimónio resulta de um ambicioso projecto de D. Afonso V que visa legitimar aos olhos das grandes potências internacionais uma dinastia que nascera pouco conforme com o direito sucessório.

Dirigiam a comitiva de acompanhamento João Fernandes da Silveira e Lopo de Almeida (primeiro conde de Abrantes), tendo este último enviado a D. Afonso V quatro cartas em que dá notícia dos acontecimentos que marcaram a viagem, bem como da forma como a comitiva foi recebida. O facto de o embaixador concentrar toda a sua atenção na acção, bem como na descrição das cerimónias e do comportamento dos intervenientes, faz de tais registos epistolares uma fonte de inegável valor histórico-antropológico.

A visão e avaliação do Outro europeu é constante nas Cartas e opera-se sempre através de uma análise comparativa com os portugueses. Por outras palavras, os referentes culturais de Lopo de Almeida constituern-se como um código com base no qual o mesmo realiza a sua avaliação antropológica.

Sempre perspicaz, e não raras vezes irónico e satírico, Lopo de Almeida fornece retratos ora colectivos, como o dos alemães, ora individuais, como o do imperador Frederico III. De reter é que em caso algum estamos perante retratos frios. Ao contrário, são sempre representações extremamente ricas do ponto de vista do sentimento, da emoção e do elemento humano, inequivocamente aquele que mais entusiasma o autor da narrativa.

Em síntese, pelo seu conteúdo, mas também pelo contexto em que foram produzidas, as quatro cartas enviadas de Itália por Lopo de Almeida ao rei D. Afonso V constituem um testemunho privilegiado, por um lado, da forma como os portugueses olhavam o Outro europeu e, por outro lado, da forma como se olhavam a si próprios por reacção a esse mesmo Outro europeu, em meados do século XV.

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Publicado

2011-11-30

Edição

Secção

Artigos