N.º 13 (2021): Representações do jornalismo e dos jornalistas
Sendo uma atividade muitas vezes sujeita à crítica social, o jornalismo é genericamente reconhecido como uma atividade essencial à promoção de informação de qualidade, num compromisso com a verdade dos factos e com o interesse público. A esta ideia de virtudes está associada também uma certa visão romântica do jornalista, como uma espécie de profissional ao serviço de um princípio de revelação, de descoberta e de desocultação. Daí que, não raras vezes, o jornalismo seja descrito como uma vocação que exige competências particulares como curiosidade, espírito crítico, precisão e rigor, integridade, astúcia e tenacidade na tarefa de observação e interpretação da atualidade.
A representação social do jornalismo e dos jornalistas tem sido, no entanto, relativamente ambígua ao longo da história. Para alguns intelectuais dos séculos XVIII e XIX, o jornalismo era uma espécie de sub-literatura e os jornalistas atores coniventes com interesses políticos e económicos. Balzac, por exemplo, chegou a referir-se aos jornalistas como “escrevinhadores”. E, n’Os Maias, de Eça de Queirós, a personagem João da Ega apelidava-os de “escória da sociedade”. Com a expansão dos meios de comunicação social e a profissionalização do jornalismo, tornou-se ainda mais exigente o escrutínio público dos jornalistas. Dominique Wolton considerou-os, num texto de 2003, publicado na revista Hermès, “heróis frágeis da modernidade”.
A forma como representamos o jornalismo é o resultado de uma construção social complexa, onde intervêm os jornalistas, as organizações mediáticas, a sociedade em geral, os públicos em particular, as instituições sociais, políticas, culturais e económicas. Nas últimas duas décadas, o papel de charneira que o jornalismo tinha na mediação da comunicação pública foi enfraquecendo. Hoje, o jornalista disputa o seu reconhecimento social no meio de contextos sociais e de poderes que ora o elogiam ora procuram confundir-se com ele, concorrer com o seu poder mediático, por vezes mesmo destruí-lo, descredibilizando-o.
Que imagem temos, afinal, do jornalismo e dos jornalistas? Num contexto de fluxos de informação global, como entendemos a(s) função(ões) do jornalismo? Como tem sido interpretada a condição de jornalista tanto do ponto de vista normativo-legal como do ponto de vista social? Que representações do jornalismo e dos jornalistas são produzidas ou reproduzidas por outras produções mediáticas como o cinema? Como se autopercecionam os próprios jornalistas e se representam socialmente? Que ideia veicula o próprio jornalismo acerca do jornalismo e dos jornalistas, quando faz da atividade e dos profissionais notícia ou objeto de opinião?